sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

CONHECENDO MAIS SOBRE RÉGIO E SUA MANEIRA DE CRER


[...]O aspecto intelectual e a predominância da razão em Régio são essenciais para a compreensão da sua religiosidade. Podemos dizer que o nosso poeta é um cristão sem fé. [...] O que nós queremos dizer quando afirmamos isso, é que ele só acredita pela fé naquilo que racionalmente não pode ser examinado ou mesmo derrubado. Explicando melhor, ele crê, por exemplo, em Deus porque, por um lado, a sua razão não O pode derrubar e, por outro, porque não consegue a sua lógica atingir a Divindade, ficando ele, pelo raciocínio, sem a certeza da existência de Deus. [...] Ora, em José Régio, tudo o que pode passar pelo filtro da razão passa [...]. Por isso, Régio só crê pela fé quando já não o pode fazer pela razão, só usa aquela quando esta já não chega, quando os seus limites são ultrapassados (PINTO;PINTO, 1985, p. 7 e 8, grifo nosso).
Referência
PINTO, Maria Manuela Gomes de Manuela Azevedo; PINTO, António Ventura dos Santos. Crer não crendo: religião e religiosidade em José Régio. [S.l.: s.n.]. Vila do Conde, 1985. Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3084.pdf. Acesso em: 20 jan 2011.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

SONETO DE ONAN - JOSÉ RÉGIO


Chegando nu, cantei. Cantei, é certo,
Minha nudez ansiosa e lastimável.
Fez-se, em redor de mim, terror, deserto...
Que uma nudez assim é pouco amável.

"Esta gente esperava-me encoberto",
(Pensei) "mas eu nunca soube ser afável...",
E então vagueei cantando, em meu deserto,
Minha nudez ansiosa e lastimável.

Só, vagabundo, assim desci mais fundo:
Na Torre de Babel da minha ermida,
Já vivo mais do que a minha própria vida!

Já, repelido, em vós me continuo...
Sim!, só a mim me entrego e me possuo,
Porque eu me busco para achar o mundo!



fONTE:http://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=131

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

JOSÉ REGIO E O SEU PRINCIPAL OBJETO DE ESCRITA


DOCENTE: MARLUCE VIEIRA
DISCENTES: ALESSANDRA MACHADO
E ELAEYDE FREITAS

O poeta é um artista que molda sua arte com cuidado, desabafo, alegria e tristeza, pois, esta é única e precisa expressar o que sente a sua alma. E é assim que introduzimos o blog sobre José Régio, e aqui usamos das mesmas palavras. Acrescentando, porém, que a arte a ser moldada é aquilo que move o íntimo do autor a escrever, ou seja, seus conflitos, suas dores, etc.
Este ensaio pretende nesta perspectiva, analisar Jose Régio, autor "diverso e uno", com o seu objeto de escrita, sendo assim, aquilo que o leva a escrever, o seu desabafo, o seu tema principal.
José Maria dos Reis Pereira, pseudônimo José Régio foi escritor português, natural de Vila do Conde, e teve sua trajetória de vida artística e literária pautada a várias dimensões, sendo: poeta, dramaturgo, romancista, contista, ensaísta, pensador, pintor, colecionador, entre outros, que o fez ser tão plural em sua essencialidade.
Em descrição feita por João Marques, José Régio era:

“De corretas e agradáveis proporções físicas, [...] era de baixa estatura, franzino, frágil e hipersensível, de temperamento apreensivo e receoso, de feitio afável, mas complicado”. “Queria-se literato sem partido e escritor verdadeiramente independente. Sabia escutar, era franco, leal, corajoso e sereno. Acolhia os jovens, mas recusava adulá-los. Detestava a demagogia. Foi em grande parte impopular devido à sua originalidade autêntica.” (MARQUES in PINTO e PINTO, 1985, p. 2)

Percebe-se na fala acima, um homem múltiplo e complexo, caracterizando a sensibilidade, as inquietações, sinceridade, intensidade e originalidade necessárias a um verdadeiro poeta, ainda mais este, que teve sua completude artística relacionada a tantas áreas da literatura e da arte. Partindo dessa premissa sobre José Régio, é necessário salientar que todas estas características mencionadas por João Marques sobre o autor, estão refletidas em suas obras, principalmente o desejo pela sua “independência”, coragem e “originalidade autêntica” que gerou o ‘tema central de sua obra”: “O problema religioso” (PINTO e PINTO, 1985, p. 3).
Como diz os autores Maria Manuela Gomes e Antônio Ventura em seu artigo: Crer não crendo: religião e religiosidade:

Descobrir nas incursões poéticas e ficcionistas de um autor a riqueza da sua personalidade, seu talento criador e as suas inquietações e “encruzilhadas” de vida é sempre uma tarefa em permanente (re) construção, um processo de descoberta em que o objeto em análise vai se revelando em toda a sua riqueza e plenitude, mas sempre correspondendo as questões e anseios de cada um dos sujeitos “cognocêntricos”, muitas vezes participantes activos do percurso biográfico e/ou intelectual do autor, que dessa forma contribuem para o aprofundamento do conhecimento nas suas diversas facetas. (1985, p. 2)

Com isso, entende-se que conhecer o autor e sua obra é uma tarefa árdua e sempre incompleta, pois, depende da compreensão particular e coletiva daqueles que os estuda ou pesquisa, ou seja, o “outro”, o que é exterior. E é assim, com essa parcialidade, que conhecemos a sua principal inquietação: “o problema de Deus”, fato que ele “sempre debatera e ainda agora – já no fim de sua vida – mais debatia consigo mesmo e com os outros”. Pois, José Régio foi um homem religioso que teve muitas dúvidas em relação a Deus e sua existência. Por isso, “o caminho que o autor escolhe é sempre marcado por duas tendências, dois extremos: Deus e o Diabo, a vida religiosa e a vida da boêmia, o creio e o não creio” (PINTO e PINTO, 1985, p. 3). E assim, percebemos o dualismo de seu íntimo.
Segundo um dos irmãos de José Régio, João Maria dos Reis Pereira, pode-se encontrar três fases na vida deste autor: “menino adolescente que aceitava ‘verdades’ familiares e tradicionais”, sendo seu avô e tia guardadores dos costumes religiosos; o “labirinto” onde este precisava “se conciencializar e implicitamente continuar a aceitar ou não verdades”; e a de um “homem verdadeiramente consciente e que confirma a sua crença” (PINTO e PINTO, 1985, p. 4).
Nestas etapas da vida de Régio é possível compreender a ligação deste com a sua religiosidade, fato que compõe o objetivo de sua escrita. O autor aqui mencionado vivia um dualismo em sua vida religiosa e esta foi o objeto central de suas obras; pois como o próprio disse em dois dos seus manifestos (“literatura viva” e “Literatura livresca e literatura viva”) publicados na revista “Presença”, fundada por ele (PAULA, [20--], p. 1):

Literatura viva é aquela em que o artista insuflou a sua própria vida, e que por isso mesmo passa a viver de vida própria. Sendo este artista um homem superior pela sensibilidade, pela inteligência e pela imaginação, a literatura viva que ele produza será superior, inacessível, portanto, às condições do tempo e do espaço. (PAULA, [20--], p.1)

Como o próprio autor afirma acima, ele utilizava os seus conflitos internos, partindo da “sinceridade literária” que ele tanto prezava, para produzir a sua arte escrita (PAULA, [20--], p. 16). E sendo esta original, por partir do íntimo daquele que a escreveu, passa a produzir “vida própria”, tanto para o autor como para sua obra.
Mas só o fato de escrever àquilo que pulsa no interior, aquilo que o incomoda, não faz desta, arte literária e nem deste escritor um produtor de “literatura viva” (PAULA, [20--], p. 1). Para Régio era imprescindível esta “sinceridade”, contudo, esta por si só não bastava (PAULA, [20--], p. 6). Era preciso lapidar esta pedra em estado bruto, com a arte descrita por Fernando Pessoa, e que José Régio invoca: o poeta é um fingidor. E ele se explica e Adna Candido complementa: A dor sentida tem de ser fingida para se tornar expressão artística (PAULA, [20--], p. 4). Era assim que este autor trabalhava e esculpia as suas obras.
Partindo dessa perspectiva foi que Régio publica oito volumes de poesias: Poemas de Deus e do Diabo (1926), Biografia (1929), As Encruzilhadas de Deus (1935-36), Fado (1941), Mas Deus é Grande (1945), A Chaga do Lado (1954), Filho do Homem (1961) e Cântico Suspenso (1968) (PAULA, [20--], p. 8). Não esquecendo, porém, Confissão dum homem religioso e Páginas do diário íntimo, trabalhos estes que foram postumamente publicados (ROMO, 2004, p.1-2). Além de crônicas, romances, ensaios, etc. todos estes escrito por Régio e que partilhavam da mesma temática.
Assim, falar de Régio e seu objeto de escrita não é tão fácil, principalmente pela riqueza de sub temáticas que o autor utiliza para produzir suas obras, mas todas estas estão envoltas no seu tema central que é Deus e o “crer não crendo” no “Absoluto”. José Régio foi um escritor que quis conhecer a fundo sua religiosidade, testar suas crenças, e assim, se conhecer, e foi algo que buscou até o fim de sua vida.
Muito se poderia falar sobre este autor e suas obras, no entanto finalizaremos este ensaio com as palavras do mesmo, que diz:

Se, num certo sentido ou medida, pode o artista enriquecer verdadeiramente a matéria pela forma que lhe dá, lícito será supor-se que uma visão enriquecida dessa matéria é que possibilitou, ou exigiu, uma forma adequadamente rica. Assim voltamos à idéia de que o grande artista é sempre um grande homem– e que para direta ou indiretamente serem expressos exigem recursos expressionais também invulgares, e um invulgar jogo ou uso desses recursos (PAULA, [20--], p.16).

Régio soube fazer muito bem este jogo de elaborar estratégias para as formas físicas de suas obras, e assim, fez com que estas, refletissem o seu íntimo, por isso não é difícil entender como ele foi e é um dos mais celebres autores portugueses. Saber trabalhar com a matéria bruta do seu íntimo e lapidar esta, para fazer uma obra reconhecida por todos, é como ele disse para grandes homens de instintos, sensações, sentimentos, intuições, idéias acima do comum.


Referências

PAULA, Adna Candido de. As Encruzilhadas de Deus: Uma leitura da estética e da religiosidade na poesia de José Régio. [S.l.: s.n.], 20--. Disponível em: http://www.alalite.org/files/chile2008/ponencias/Adna%20Candido%20de%20Paula.pdf. Acesso em: 20 jan 2011.
ROMO, Eduardo Javier Alonso. José Régio visto por ele próprio. Revista letras. Curitiba: UFRP, n°62, p. 97-115, janeiro a abril/2004.
PINTO, Maria Manuela Gomes de Manuela Azevedo; PINTO, António Ventura dos Santos. Crer não crendo: religião e religiosidade em José Régio. [S.l.: s.n.]. Vila do Conde, 1985. Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3084.pdf. Acesso em: 20 jan 2011.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

QUANDO EU NASCI - JOSÉ RÉGIO

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...


Fonte: http://www.triplov.com/poesia/jose_regio/quando_eu_nasci.htm
Neste poema podemos perceber que Régio compara os acontecimentos do seu nascimento com o nascimento e morte de Cristo, evidenciando em mais uma de suas obras a inquietação que o leva a escrever, ou seja, seu objeto de escrita: a sua religiosidade. Pois, este autor que "crer não crendo" em Deus , está sempre em busca de provas concretas para crer na existência do Absoluto, e ao fazer está análise ele percebe que tanto na nascimento quanto na morte de Cristo aconteceram coisas extraordinárias, as quais não aconteceram nem a ele e nem poderia a nemhum outro simples ser humano.
Assim,Régio prova pra si mesmo a soberania de Cristo.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Fado português


O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chão, meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.


Fonte: http://www.triplov.com/poesia/jose_regio/fado_portugues.htm

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Cristo (José Régio)


Quando eu nasci, Senhor! já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas.

Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!

A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...

Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!
Sendo Régio um autor religioso que "crer não crendo", e vive em constante busca de respostas para dúvidas sobre Deus e sua soberania, neste poema fala sobre Cristo e a necessidade de ouvi-lo. De ouvi-lo pra provar que de fato este ainda vive, pra provar a si mesmo que Deus existe.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

José Régio



Publicados os Poemas de Deus e do Diabo, Régio tem em
mente dar continuidade à temática religiosa. Para tal, vai
reunindo poesias em dois cadernos que intitula de Novos
Poemas de Deus e do Diabo. O projecto sucessivamente
alterado, nunca se concretiza. Muitos desses poemas vão
dar origem à obra As Encruzilhadas de Deus; os restantes
são inseridos em obras poéticas publicadas mais tarde.

Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt/joseregio/c1.html